Uma
pergunta simples, dez segundos de cabeça baixa e um mar de lembranças. Quando
questionado sobre a sensação de presidir o primeiro clube indígena do Brasil a
disputar a primeira divisão de um campeonato estadual, o cacique Zeca Gavião,
presidente do Gavião Kyikatejê, não escondeu as lágrimas e revelou que o
caminho percorrido desde 2009 foi árduo, mas com o final feliz que ele
planejou.
Zeca
disse que seu único objetivo era promover a inclusão social pela prática do
esporte, fazendo com que o povo da tribo Kyikatejê – distante cerca de 580
quilômetros de Belém – tivesse a mesma oportunidade de participar de projetos e
iniciativas antes destinadas, ou pensadas, somente para outro público. O
objetivo foi alcançado através do futebol, e agora ele quer ir mais longe. O
presidente projetou uma campanha digna na edição 2014 do Campeonato Paraense.
–
Sei que não foi fácil chegar aonde chegamos por tudo que nós passamos.
Queríamos realmente mostrar a inclusão social. Muitas vezes as pessoas falam em
inclusão social, mas poder alcançá-la é uma dificuldade muito grande. E nós
conseguimos alcançar esse objetivo. Agora vamos para mais uma batalha no
campeonato, vamos fazer bonito – reiterou o presidente do Gavião, em entrevista
ao repórter André Laurent, da TV Liberal.
Para
chegar até a primeira divisão do Paraense, o elenco do Gavião sofreu
reformulações. Hoje ele conta com 28 jogadores, e quatro ainda são de origem
indígena, sendo que dois, titulares absolutos. Além do meio-campo Watiwai, o
técnico Vitor Jaime tem Aru no ataque, artilheiro de porte físico avantajado.
Somente nas fases preliminares do estadual, o jogador assinalou oito gols.
–
Vou jogar pintado na estreia do campeonato (contra o Paysandu, no próximo
domingo, dia 12). Vou usar o preto de guerra e o vermelho de força e vontade –
revelou Paulo Aritana Sompre, o Aru.
Tecnologia
e costumes indígenas
Para
os demais jogadores do elenco, a experiência, além de nova, tem sido
surpreendente. Aos 30 anos, Peri já rodou por times como Paysandu, Boa Esporte,
Campinense e Paulista, mas se mostrou surpreso com o que viu ao chegar a Bom
Jesus do Tocantins, local da tribo-sede do Gavião. A tecnologia também é uma
realidade por lá, bem como a prática de novos costumes.
–
Quando fui contratado, pensei que encontraria algo mais simples, mas cheguei e
vi o pessoal bem atualizado, inclusive acessando a internet. Todo mundo aqui é
muito acolhedor. Já entrei no clima, e vamos buscar os resultados no Campeonato
Paraense.
O
zagueiro Max Melo disse que já começou a adotar alguns aspectos culturais dos
índios.
–
Já fui caçar algumas vezes. É bom e ajuda a relaxar. E ainda nos deixa bem
fisicamente – garantiu o defensor.
Gavião
e Payandu se enfrentam no próximo domingo, pela abertura do Campeonato Paraense
2014. A partida será no Estádio da Curuzu, às 16h. Para este jogo, a diretoria
do time de índios promete uma grande festa, com o hino nacional cantado na
“língua G” e apresentação de danças e costumes indígenas. (do G1)
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